
Oferece-me um olhar tácito.
Enquanto eu explano sobre fatos da vida de modo entusiasmado e expansivo, seus olhos permanecem atentos e contidos.
Discorda de mim e eu contra-argumento.
Estou sempre pronta para questionar. Quero mudar as coisas. Começo por mim.
Minha agitação... perene... camufla minha alma tão clara de sol. Tenho em mim uma grande tempestade, e um furacão que sabe onde mora e por onde passeia. Se reconhece no dentro daqueles olhos tácitos, vem de lá e daqui. Compartilhamos convicções. Eu quero a prática.
Eles não são tão tácitos, os olhos. Mas é perigoso ouvir o não-dito. É coisa de criança imaginativa... Eu ouço... Eu vejo... Eles me abraçam.
Muitas intempéries eu vivi.
Acho que ela gosta de mim. Penso que reflita muito sobre isso enquanto respira profundamente e desvia os olhos... pensa nisso... sobre o tempo, sobre a verdade, sobre a vida com amor... sobre como saber se é amor... ela pensa. Eu penso.
Tão ponderada. Sabe o que fazer com suas mãos, enquanto conversa. Reflete. Mantem o horizonte à vista. Sabe a hora de ficar e de ir embora. Não extrapola. Eu extrapolo. Extrapolaria, não fosse ela me segurar.
E tenho transbordado, imponderada, me lanço inteira e me esfacelo. Ela me pede cuidado... que eu não me precipite nem com ela... e, assim, cuida do meu precipício... que ele esteja distante de mim.
Oferece-me um olhar tácito.
"Vem cá!"
Me encaixou em seus braços, depois de confidências pueris, frágeis, turbulentas.
"Você precisa de paz. A vida não é só isso".
E eu, abraçada tanto a abraço, com calma de mar e paz de imensidão... grande, grande... pequena.
Daline Gerber